24 de maio de 2019

Há um ano que não vives


Faz hoje um ano que te dei a mão pela última vez enquanto ainda respiravas.
Respiravas mal, com alguma ajuda, na esperança de que tudo acabasse rápido, porque o teu sofrimento já era inconsciente, mas o meu não.
As viagens diárias até o 4º piso do HLA para olhar para ti a ficar cada vez mais cinzento e magro, eram hábito para conforto do meu coração e da minha consciência. Talvez sentisses a minha presença.
E aquele dar de mão, há um ano, sei que sentiste. Deste-me o adeus.
Algumas horas depois o teu corpo decidiu descansar.

Não tenho fotos nenhumas contigo das sete semanas que me deste.
Que te deste. Entre uma recuperação "milagre" depois de parecer estar já tudo acabado e realmente começar a acabar, tiveste sete semanas.
Memórias, que tenho feito um esforço para não atenuar ou esquecer.
Foi bom, muito bom ter esse tempo ainda.
As melhoras da morte, segundo dizem.
Faz um ano e duas semanas que bebemos uma cerveja os dois (a tua sem álcool, que fazias questão de ficar com a garrafa em cima da mesa virada para a porta para não pensarem que andavas a beber) e comemos tremoços e um pires de caracóis.

Tenho saudades tuas.
Todo o meu crescimento foi com discussões entre nós.
Cheguei a mulher e mãe e fizemos as pazes.
Dávamos-nos bem agora.
Rimos o suficiente, bebemos as nossas cervejas juntos, petiscos e o resto que gostávamos de partilhar.
Os teus conselhos já não existem e muitas vezes me sinto desamparada.
Perdi-te pai e não tenho mais nenhum.

Sem comentários: